Texto: Diacono João Paulo dos Santos Silva,
Diocese de Luziânia-GO
O Revmo. Pe. José Rafael Solano Duran quis abordar como os católicos podem contribuir para a cultura atual, na perspectiva da fé e da razão. Mas precisamente, como pôde contribuir o pensador Blaise Pascal no pensamento não apenas católico, mas humano em geral. A proposta é abordar a contribuição paradigmática de um católico, pouco conhecido, mas muito utilizado em muitos âmbitos: Blaise Pascal.
O início
Pascal traduziu e interpretou a obra matemática de Euclides. Ele mesmo se tornou matemático, na corte do rei francês, geômetra e inventor. Diante de seu trabalho, mas também diante das questões que se colocavam em sua vida, pergunta-se como o ser humano é capaz de pensar no infinito? Aqui começa a primeira conversão de Pascal, apesar de ser já católico.
Diante da invenção de um jogo, a pedido do rei –a roleta- Pascal começa a se perguntar acerca do azar. Será que as coisas acontecem por azar? Existe uma determinação?
Um encontro histórico se faz crucial para a posterior reflexão de nosso autor. Descartes e Pascal travam um diálogo. Para aquele, o pensar era o método; para este, o método era o sentir. Há, então, dois ‘tipos’ de ética: uma ética da razão e uma ética do coração. Pascal irá amadurecer seu posicionamento com relação à verdade e à ética, não fundamentado apenas na razão, que é débil e imperfeita, mas também no sentir, no coração.
Fatos importantes que se sucedem em sua vida, também lhe servem para novas reflexões. Conflitos como a infidelidade do rei à sua mulher, dos juros altos, e do duelo, Pascal resolve abandonar a matemática, em 1646. Ele quer o método do conquistar e não o do convencer. Para Pascal, o método cartesiano engana, e não permite colocar a pergunta para a transcendência: onde está o meu Deus. Só ficar na razão não responde aos anseios todos que o ser humano tem.
O conceito de Beleza
A beleza é uma forma prazerosa de compreender a verdade. A beleza está incluída dentro da própria razão, mas é sensível. A beleza não tem preço, não tem valor, não entra dentro da dimensão financeira, não pode ser enquadrada nos parâmetros puramente racionais. Elabora, então, uma célebre frase: “O coração tem razões que a própria razão desconhece”. O homem não precisa de milagres, mas precisa de sentido.
Com Sto. Agostinho ele descobre sua verdadeira motivação teológica: o homem deve agir para o bem. Fomos feitos para o bem, não para o mal.
A vida é uma sujeira, mas permeada pela graça.
Verdade
Conhecemos a verdade não apenas pela razão, mas também pelo coração. Essa verdade só pode ser conhecida em sua plenitude por Jesus Cristo.
Essa reflexão Pascal a realiza num período de doença, onde experimentará um encontro com a verdade pela experiência com Jesus Cristo. Nesse período fará sua primeira confissão. A partir daí, combaterá o orgulho, a prepotência e a vaidade. Escreve, então, Cartas e as distribui como panfletos, denunciando as más obras, sobretudo da corte.
Pascal continua seu percurso de amadurecimento, sobretudo em sua experiência com Deus, na fé. À beira da morte, “conhece o verdadeiro Deus”, numa vida piedosa e devota. Ele não deixa de criar e trabalhar intelectualmente: transforma-se num verdadeiro gênio. As obras que criou lhe permitem experimentar o valor de uma vida junto de Deus. Ressalta que não somos virtuosos por nós mesmo, mas porque Deus assim o quis; não somos casualidade, mas causalidade; podemos progredir na virtude, com a graça de Deus.
Pascal e a modernidade
O drama deste homem chaga até o séc. XXI. Influenciou pensadores cristãos e não cristãos. Nietzsche diz ser ele “Um verdadeiro cristão!”. Freud comenta que Pascal é: “O pai da simplicidade”. Isso porque ele soube muito bem que o ego pode ser dominado. Em Cristo, a vida se desvela cada vez mais como uma misericórdia divina. O um poderoso auxílio vem para intensificar sua experiência: o sofrimento. O sofrimento nos faz ainda mais descobrir nossa postura diante de Deus.
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Diacono João Paulo |